quarta-feira, 28 de março de 2018

Novo relatório confirma contaminação em fluxos do rio Pará após despejos da Hydro em Barcarena


Relatório divulgado pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) nesta quarta-feira (28), em Belém, aponta que as operações irregulares da refinaria da Norsk Hydro em Barcarena, nordeste do Pará, contaminaram fluxos do rio Pará com metais tóxicos. Conforme divulgado pelo G1a contaminação de chumbo pode ter se alastrado e o IEC informou que os riscos à saúde ambiental foram bem maiores do que se imaginava, não se limitando à bacia do rio Murucupi. Em nota, a Hydro alegou que " ainda não teve acesso ao conteúdo integral do relatório apresentado pelo Instituto Evandro Chagas, e que a companhia irá analisar o material antes de se pronunciar".
De acordo com o IEC, nas amostras coletadas entre 25 de fevereiro e 8 de março foram encontrados níveis de substâncias acima do permitido pela lei ambiental em áreas próximas às praias de Sirituba e Beja, Guajará do Beja, Arapiranga, igarapés do Curuperê e Dendê e igarapé do Tauá.
O relatório concluiu que nos resíduos despejados pela empresa estavam misturados a lama vermelha e resíduos de cinzas. Nosses efluentes os pesquisadores encontraram níveis consideráveis de 14 substâncias químicas pesadas - arsênio, chumbo, manganês, zinco, mercúrio, prata, cádmio, cromo, níquel, cobalto, urânio, alumínio, ferro e cobre. "A soma dos efluentes de lama vermelha com os efluentes de cinza aumenta muito o nível desses metais nos efluentes da DRS1".
De acordo com o IEC, esses metais tóxicos circulavam pelos canais irregulares já identificados na empresa. As conclusões apontam que, nos resquícios dentro do Canal Antigo, que é auxiliar, foi encontrado níveis muito elevados de manganês, indicando que o lançamento de qualquer material pelo canal e sem qualquer tratamento representa um risco de danos aos ecossistemas aquáticos e à saúde humana.

O documento intitulado "Avaliação Preliminar dos Impactos Ambientais Referente ao Transbordo e Lançamentos Irregulares de Efluentes de Lama Vermelha na Cidade de Barcarena, estado do Pará” traz resultado das análises de amostras de água coletadas no Rio Murucupi, em vários pontos do Rio Pará, nos rios Arienga, Arapiranga, Guajará do Beja, Igarapés Curuperê, Dendê e um igarapé que é afluente do Tauá.
Além disso o estudo traz amostras de lama coletadas dentro da empresa em todo o sistema de efluentes e amostra coletada na estrada PA-481, após o tombamento de um caminhão no dia 22 de fevereiro.
De acordo com o IEC, o material que tombou na estrada era efluentes de lama vermelha. O derramamento, segundo o IEC, colocou em risco todos os ecossistemas que estão perto da estrada e até pessoas que circulam na estrada de uso público. Ainda segundo o IEC, nas adjacências da área onde foi coletada esta amostra, existem igarapés e nascentes que compõem as bacias hidrográficas do Rio Murucupi e São Francisco e, pela declividade do terreno, essas nascentes podem ter recebido essa carga de resíduos e efluentes.

Rio Murucupi está impróprio para consumo humano

Segundo o IEC, todos os elementos tóxicos encontrados nos efluentes da empresa Hydro também são encontrados nas águas do rio Murucupi.
O relatório aponta que as águas do rio Murucupi, no trecho entre a comunidade Vila Nova e as nascentes, estão comprometidas com níveis de alumínio, ferro, arsênio, cobre, mercúrio e chumbo acima do que prevê a legislação brasileira e não devem ser usadas para consumo humano, recreação ou pesca. De acordo com o IEC é necessário que se façam estudos de eco toxicidade na região.

Recomendações

O relatório do IEC traz três recomendações:
• Continuar a disponibilizar, pelo menos até o final do período de chuvas, água potável as comunidades do Bom Futuro, Jardim dos Cabanos, Burajuba e Vila Nova, pois as águas do rio Murucupi apresentam níveis de metais tóxicos que oferecem riscos a saúde humana a partir do consumo direto ou uso para recreação e pesca;
• Ampliar esta disponibilização de água potável no mesmo período para as comunidades que residem nos municípios de Barcarena e Abaetetuba às margens dos igarapés Dendê e Curuperê, e rios Pará, Arapiranga, Guajará do Beja, Arienga e Tauá. Como citado, com esses dados não foi possível confirmar alterações na qualidade das águas em outras áreas da região;
• As águas superficiais e de consumo humano no entorno do empreendimento da Hydro devem ser continuamente biomonitoradas, através de sistemas telemétricos e coletas in loco, e criado sistema de alerta as populações que moram ao redor ou fazem uso delas. Todo biomonitoramento na região deve conter dados completos com análises de metais como previsto na legislação brasileira.

Veja os 10 pontos para entender o vazamento de barragem de mineradora que contamina Barcarena, no PA.

Entenda o caso

Justiça determinou que a empresa reduzisse a produção pela metade depois que, em fevereiro, dois escoamentos sem licença ambiental foram feitos por um duto clandestino para o rio Murucupi - um no dia 17, e outro no dia 19.
No dia 21, a Hydro Alunorte se manifestou negando qualquer incidente, garantindo que a bacia se manteve firme, intacta e sem vazamentos. No dia seguinte, o Instituto Evandro Chagas divulgou seu laudo contrariando a empresa e confirmando a contaminação em diversas áreas de Barcarena, provocada pelo vazamento das barragens de rejeitos de bauxita da mineradora norueguesa.
Desde então, Ministério PúblicoOABMinistério do Meio Ambientedeputados federais e Governo do Estado destacaram equipes para apurar os danos do acidente e dar suporte às comunidades atingidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Porto do Açu em São João da Barra exporta US$320,7 milhões no semestre

A exportação em São João da Barra no mês de junho retraiu 1,55% em relação a maio, atingindo US$74.900 milhões. O valor acumulado no sem...