quarta-feira, 23 de maio de 2018

Polícia derruba versão de pastor para morte de irmãos no ES; veja as principais contradições



Toda a versão apresentada pelo pastor George Alves sobre o incêndio que matou o filho, Joaquim Salles Alves, de 3 anos, e o enteado, Kauã Salles Butkovsy, de 6, foi contestada pelo Corpo de Bombeiros. As contradições ajudaram a polícia a concluir que o fogo não começou acidentalmente, como ele disse. De acordo com o inquérito, George estuprou, matou e queimou ainda vivas as duas crianças.
crime aconteceu em Linhares, na região Norte do Espírito Santo, no dia 21 de abril. O acusado está preso temporariamente desde o dia 28 de abril porque mudou o local do crime e fez contato com testemunhas, segundo a polícia. A Justiça decidiu, na noite desta terça-feira (23), prorrogar a detenção por mais 30 dias.
Ele foi indiciado por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulneráveis. A soma máxima das penas pode chegar a 126 anos. A polícia disse que o inquérito vai ser encaminhado à Justiça na próxima semana.

Contradições:

Incêndio acidental

  • Versão de George:
Segundo George Alves, ele estava dormindo em outro cômodo quando o fogo começou no quarto das crianças. Ele disse que percebeu o fogo através da babá eletrônica, que estava ligada, o que indica que o fogo teria começado de forma acidental. A versão foi dada dois dias depois do incêndio, em entrevista à imprensa. 
Por volta de umas 2h da manhã, escutei a babá eletrônica, os gritos deles, vi o fogo muito grande [através da babá eletrônica], corri desesperado, e a casa já não tinha energia”.
  • Corpo de Bombeiros:
Segundo o Corpo de Bombeiros, se o fogo tivesse sido acidental, a partir do ar-condicionado, por exemplo, não haveria tanta destruição. Isso, porque a janela e a porta estavam fechadas, ou seja, não havia ventilação suficiente para alimentar o fogo de maneira tão rápida.
“Essa destruição toda é incompatível com esse pequeno tempo decorrido a partir da ventilação do cômodo, o que e diz que a destruição tem que ter acontecido antes, e isso não é um comportamento natural do incêndio”, disse o tenente coronel Ferrari.
Ainda de acordo com a investigação, não foram encontrados vestígios de curto-circuito, nem nos equipamentos e nem nas fiações. Há, ainda, a prova de que um combustível acelerador do incêndio doi detectado nas amostras recolhidas pelos bombeiros.
"Ação pessoal com uso do acelerador é a única hipótese compatível com os dados do incêndio", diz a análise dos bombeiros.

Crianças estavam acordadas

  • Versão do George:
“Eu empurrei a porta do quarto deles, que estava entreaberta, eu só havia encostado por causa do ar condicionado, entrei. Quando entrei, escutei os choros deles, a gritaria, eles gritando ‘pai, pai’”, disse George.
  • Corpo de Bombeiros:
"Se as crianças estavam gritando ‘papai, papai’, por que elas iam estar embaixo de onde estava pegando fogo de forma mais intensa? É comum as vítimas fugirem do foco de incêndio e se perderem no processo”, disse o tenente coronel Ferrari, do Corpo de Bombeiros.
Para a polícia, as crianças foram abusadas, agredidas e colocadas desacordadas dentro do quarto. Através da perícia com luminol, foi encontrado sangue próximo a uma escrivaninha e ao box do banheiro.

Queimaduras

  • Versão de George:
“[...] Pus a mão na cama, queimei as minhas mãos, não consegui pegar [as crianças]. Eu não consegui, estava muito quente, eu queimei os meus pés, as minhas mãos”.
  • Corpo de Bombeiros:
“Ele falou que colocou as mãos na cama. Se o fogo passou do ar-condicionado para a cama e a cama estava queimando, como ele colocou as mãos na cama? E a mão dele não tinha nenhuma queimadura. [...] Ele já tinha raspado o cabelo, possivelmente para esconder que o cabelo não havia sido queimado. Mas ele não tinha nenhuma queimadura no rosto, barba farta”, completou o tenente coronel Ferrari.

Comportamento

O comportamento do pastor, que deu um culto e foi á uma lanchonete no dia seguinte ao incêndio, também chamou atenção da polícia. A atuação dele durante as investigações também causaram estranheza.
Segundo o tenente coronel Ferrari, George seria "poupado" de participar das perícias iniciais, quando as autoridades refazem a cena do incêndio para tentar identificar como tudo aconteceu. Mesmo assim, ele apareceu no local.
“Eu precisava remontar como era o cômodo antes de queimar e eu fui buscar amigos e parentes que pudessem me dizer o que tinha no quarto. Para minha surpresa, ele apareceu lá dois dias depois, voluntariamente, para dizer o que tinha no cômodo. Isso me estranhou”, falou Ferrari.

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